Diagnóstico de insuficiência renal em gatos: conheça os desafios!

insuficiência renal em gatos

A insuficiência renal em gatos é uma das doenças mais comuns que acometem os felinos. Estima-se que a cada 3 gatos, 1 passará pelo problema ao longo da vida. Apesar de ser mais comum em animais idosos, as doenças que afetam os rins podem ter causas variadas.

No entanto, o grande desafio é realizar o diagnóstico precoce, tendo em vista que, na maioria das vezes, a insuficiência só é detectada quando grande parte das funções renais já estão comprometidas. Assim, para que a doença seja diagnosticada a tempo, é fundamental o uso de aparelhos adequados e de qualidade

Neste artigo, vamos trazer algumas das principais causas e sintomas da insuficiência renal nos felinos. Além disso, você conhecerá quais métodos de diagnóstico são indicados e como proceder com o tratamento. Boa leitura!

O que é a insuficiência renal em gatos?

Primeiramente, a insuficiência renal em gatos é uma doença que ataca principalmente os rins. Ela surge gradativamente à medida que os filtros (néfrons) responsáveis por eliminar as substâncias nocivas à saúde do animal começam a ter problemas. Em geral, os animais perdem até ⅔ da quantidade de néfrons presentes nos rins. Tal situação pode levar a sérias complicações para a saúde dos felinos.

 A insuficiência renal em gatos pode ser categorizada de duas diferentes formas: crônica e a aguda. A manifestação aguda da doença (IRA) diz respeito a uma diminuição do funcionamento dos rins e pode ser causada por algum tipo de intoxicação. Caso o problema não seja diagnosticado a tempo e o animal não receba o tratamento correto, a insuficiência renal pode causar uma infecção nos rins e levar o animal a óbito. 

Já a forma crônica (IRC) é gradativa e está relacionada a lesões nos rins que não podem ser tratadas, Essa manifestação de insuficiência renal em gatos está diretamente ligada ao processo natural de envelhecimento desses animais. 

Em geral, pode-se dizer que essa enfermidade é caracterizada pelo mau funcionamento dos rins, que não conseguem desempenhar suas funções adequadamente. Dessa forma, por não conseguirem filtrar e excretar as toxinas da maneira correta, acabam por causar seu acúmulo, desregulando a concentração e equilíbrio hídrico do animal. 

Fatores de risco

Existem alguns fatores que contribuem com o surgimento do problema. Os principais são:

  • predisposição genética: raças como Persa, Abissínio, Siamês, Ragdoll, Birmanês, Maine Coon e Azul Russo são geneticamente predispostas;
  • baixa ingestão de água: os felinos não têm hábito de ingerir o líquido com frequência, o que sobrecarrega os rins;
  • idade avançada: com a chegada da idade, algumas doenças podem sobrecarregar os rins, facilitando o aparecimento dos problemas renais;
  • uso de medicamentos: uso inadequado de alguns medicamentos pode levar à sobrecarga dos néfrons;
  • Doenças inflamatórias: infecções bacterianas prolongadas, peritonite, leptospirose, FIV (aids felina), FELV (leucemia felina) e pancreatite são algumas das doenças associadas à insuficiência renal felina.

Fisiologia dos Rins

Os gatos possuem rins considerados grandes, e são extremamente vascularizados. São formados por néfrons, estruturas responsáveis pela produção da urina. As funções primárias dos rins são a de realizar a excreção dos subprodutos dos processos metabólicos e de equilibrar as concentrações dos líquidos corporais, regulando esses valores por meio da formação de urina.

Caso um animal acometido apresente perda de 3/4 da função renal, haverá uma queda da taxa de filtração glomerular. Isso significa que os produtos provenientes da degradação que normalmente são excretados pelos rins irão se acumular na circulação. Os mais importantes são a ureia e a creatinina, que caracterizam o quadro clínico chamado de uremia.

Outra consequência da insuficiência renal em gatos são os desequilíbrios ácido-básico e de eletrólitos. Dessa forma, a perda de potássio pela urina também são algumas das consequências da DRC. A perda de potássio pela urina resultará em hipocalemia, manifestada clinicamente por fraqueza muscular.

Já o acúmulo de fósforo no sangue contribuirá para piora dos sinais clínicos do paciente bem como para a progressão da doença. A menor excreção de íons hidrogênio contribuirá para o quadro de acidose metabólica no paciente renal e piora do quadro clínico.

Analisando essa conjuntura, é possível compreender que alguns dos sinais de insuficiência renal em gatos são sede e produção de urina em excesso. Esses comportamentos são uma tentativa de eliminação de substratos que deveriam ter sido excretados naturalmente pelos rins. Assim, é necessário haver uma atenção especial ao animal que apresente algum desses sinais.  

Sinais Clínicos

O grande problema para diagnosticar a insuficiência renal em gatos é que é uma doença inicialmente silenciosa. Além disso, nem todos os sinais estão necessariamente relacionados ao trato urinário. Isso impossibilita a sua rápida identificação.

As manifestações clínicas no animal só se tornam evidentes quando grande parte dos néfrons já está comprometida, normalmente 2/3 . Nesse estágio, os rins já não conseguem mais concentrar a urina, o que resultará em aumento do volume e diluição. Com isso, o gato irá ingerir mais água, o que não é comum.

Dessa forma, alguns dos sinais clínicos associados à uremia são anorexia, letargia, perda de peso, vômito, diarreia, ingestão excessiva de água, hemorragia gastrointestinal, estomatites ulcerativas, micção em excesso e halitose (com odor amoniacal).

Os felinos acometidos também podem apresentar desidratação, quando o volume de água ingerido não compensa a quantidade excretada pela urina. Alguns sinais de que o animal pode estar desidratado são olhos saltados, mucosas ressecadas e redução da elasticidade da pele. Além disso, alguns gatos podem demonstrar sinais de alterações neurológicas, apresentando tremores e convulsões. 

Uma característica da insuficiência renal em gatos é que pode se manifestar como consequência de alguma outra doença que esteja acometendo o animal. Dessa forma, pode-se ressaltar a importância do preparo do profissional e da disposição de um aparelho de ultrassonografia de qualidade, que permita ao clínico ou veterinário diagnosticar a insuficiência renal e também a sua causa primária. Assim, é necessário estar atento a quaisquer anormalidades percebidas no organismo do animal. 

Exames necessários

O diagnóstico da insuficiência renal em gatos deve partir da análise do histórico clínico dos animais. Essa avaliação deve estar aliada à observação dos sintomas, exames laboratoriais e de imagem. Em alguns casos, são prescritas biópsias das estruturas acometidas

A ultrassonografia veterinária é uma importante aliada na identificação de alterações nas estruturas dos órgãos que compõem o sistema urinário. No caso de ultrassom veterinário com doppler, o médico veterinário consegue identificar ainda alterações no fluxo sanguíneo da área, agilizando o diagnóstico da patologia.

Com o auxílio de aparelhos de ultrassom, o profissional pode observar uma possível perda da definição da estrutura, bem como seu tamanho e sua ecogenicidade. A ultrassonografia é uma das técnicas mais utilizadas por veterinários para detectar anormalidades renais, permitindo o diagnóstico de possíveis insuficiências, formação de cálculos e lesões nessas estruturas. Assim, o uso de ultrassons se mostra imprescindível para o diagnóstico.

Além disso, aumentos séricos da ureia e creatinina e baixa densidade urinária são algumas das alterações laboratoriais esperadas quando o problema existe. A mensuração de eletrólitos (potássio, fósforo e cálcio), da pressão arterial e da perda proteica pela urina são outros exames que devem ser realizados a fim de se estabelecer o diagnóstico e indicação de tratamento adequado. Por meio de exames físicos, o profissional deverá analisar a consistência e o tamanho dos rins do felino, através da técnica de palpação. 

Estudos recentes com o biomarcador SDMA (dimetilarginina simétrica) sugerem que este seja mais sensível na detecção de alterações da função renal. Especialmente em estágios iniciais da doença. Isso pode antecipar o diagnóstico para o momento em que até 25% da função renal esteja comprometida, melhorando a qualidade de vida do animal.

Qual o tratamento recomendado?

Infelizmente a insuficiência renal em gatos não têm cura. No entanto, se iniciado o tratamento adequado, há chances de estabilizar o problema, dando melhor qualidade de vida aos felinos.

O tratamento deve ser iniciado com a correção dos desequilíbrios hidro-eletrolíticos e com a correção da desidratação com fluidoterapia. Animais com essa doença também devem receber água fresca com frequência. Os eletrólitos e minerais podem ser repostos por via parenteral ou oral, de acordo com a necessidade do animal. 

Outro cuidado fundamental é realizar o manejo nutricional do paciente, especialmente em estágios mais avançados da doença. O médico veterinário deverá recomendar ao tutor o uso de ração renal, específica para animais que desenvolvem esse problema. Esse tratamento tem, dentre outros objetivos, o intuito de impedir a anorexia e a perda de peso.

O uso de nutrição enteral por sonda esofágica ou gástrica também pode ser considerado naqueles pacientes muito debilitados, com úlceras orais ou que não aceitem outro método de alimentação, pelo menos até que se consiga equilibrar o quadro clínico do paciente.

Para evitar o desenvolvimento de insuficiência renal em gatos, é fundamental orientar os tutores quanto a necessidade de realizar check-ups periódicos, especialmente em animais acima de 5 anos, manter uma alimentação equilibrada e estimular que façam o consumo de água com regularidade.

Além disso, com o objetivo de tratar, da melhor forma, os animais acometidos, é indispensável que os clínicos e médicos veterinários possuam os aparelhos necessários e que estejam capacitados para reconhecer as anormalidades de seus pacientes, possibilitando o diagnóstico precoce.

Gostou desse assunto? Conheça o curso de Pós-Graduação em Diagnóstico por Imagem em Pequenos Animais!

Fontes: Revista Nosso Clínico, Patas da Casa, Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural do Semi-Árido